sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Dicas na Montanha: “A arte do improviso”

Quem já não vivenciou uma situação onde é necessário costurar algo e esqueceu se de trazer agulha e linha de costura, ainda mais se tratando de uma caminhada de vários dias. Mochila estourou, sapato abriu, a barraca rasgou, o zíper ta ruim e por aí vai.

Revisar o equipo antes de sair teria evitado isso,a dica desta vez é quando rasgamos algo de tecido fino, como por exemplo, a nossa calça, parede da barraca e outros. Neste caso tinha esquecido a agulha do meu kit reparos. (Fio dental é ótimo para ser usado no lugar da linha de costura.)

Peguei aquele arame que vem em embalagens para fechar os sacos de diferentes tipos de pães, tirei a camada de plástico, fiz um pequeno olhal em sua ponta, passei a linha e apertei bem com um pequeno alicate que esta sempre no meu kit. (Alicate de R$ 1,99!
O menor e mais leve que encontrar.)

Ajuda muito, assim eu furava e depois puxava a ponta do outro lado com o alicate. Com um pouco de paciência consegui costurar e usar durante muito tempo!


Rodrigo Vasconcellos, montanhista desde 1984, iniciou a prática da escalada em 1994 e é instrutor da Outward Bound Brasil onde atua como educador e guia em expedições.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Conquista da via "Sombra e Escuridão" no Baú, São Bento do Sapucaí - SP.

Iniciamos a via em 2006, após um convite do Bruno onde falava sobre uma possível linha no Baú com fenda e tal... Aceitamos na hora e fomos eu, Andreas e o Bruno para uma empreitada no Baú!!

No começo da cordada já dava para perceber o tom da conversa, aperta o reglete e vai.... Depois de algumas aterrisagens bem sucedidas na árvore a 1ª chapa foi batida. E com isso tocamos para cima, depois que o Bruno virou o plato bateu mais um P e desceu, peguei as tralhas e fui de novo.

Comecei a subir, fazendo as passadas em cliffs de agarra, quando parei para começar a fazer o furo para a proteçao, um cliff se soltou e ae eu virei e comecei a cair, bati um pé no plato e cai mais um pouco batendo cabeça e costa.

Tentei subir de novo, mas percebi que o pé estava doendo demais , game over!Acabei machucando seriamente o pé e tivemos que adiar o fim da conquista para depois.

O tempo passou, voltei a escalar, conquistar e agora em 2009 resolvemos finalizar a rota!!!

Voltamos eu e o Bruno e bivacamos na base, levamos nossas redes, MSR e tudo mais para desmontar o acampamento só quando terminasse a via!

Ai vai o relato da conquista da via feita pelo Bruno em seu blog.

"Iniciado esta via 3 anos atrás, fomos eu e o Braga terminar esta conquista.Haviamos conquistado 2 cordadas na primeira investida e pelos nossos cálculos mais 2 enfiadas estariamos no cume.

1ª Cordada:

Esportivo de parede, sai da base fazendo alguns lances de 7° e chega no 1°P da cordada, as agarras diminuem, mas com equilíbrio e usando a sapa da maneira correta, alcança o 2° e 3° P's da cordada, desse grampo, segue sentindo a um pequeno plato onde após domina-lo, protege-se com um camalot #0.75 na fenda da direita (importante usar costura grande) antes de fazer a travessia para o 4° P da cordada, protege ele e segue tendendo para a esquerda até alcançar o 5°P da cordada.

A partir da quinta proteção fixa, o grau em livre sobe consideravelmente, sendo um possível 9°a, o qual pode ser feito em artificial de cliffs de agarra e buracos (A0).

2ª Cordada:

Sai da base e logo protege-se em um móvel, segue sentido cresta oeste do Baú, protege em uma chapa e mantem-se na cresta, após proteger em uma fenda horizontal, segue tendendo para esquerda sentido pequena arvore e plato, desviando da vegetação existente na parede, passa a base de rapel na beira do plato e toca para a face Sul do Baú, onde tem a P2 mista abaixo da fenda que atravessa o teto.

3ª Cordada:

Fenda linda e sólida, com muitas colocações boas A2 e com forte possibilidade de ser feita em livre, algo em torno de 9°b/c, após a fenda sai em 4 furos de cliff até a 2ª chapa da cordada. Dessa chapa segue por balcões e agarras abaoladas (VIIa/b) até a base, onde literalmente o vento faz a curva no Baú.

4ª Cordada:

Bonita, exigente e com lances emocionantes ao melhor estilo da escalada em aventura, lembrando muito algumas cordadas do Garrafão. Esta cordada foi conquistada sem batedor, o que haviamos levado havia nos deixado na mão, levamos a furadeira, com a bateria possuindo autonomia de 6 furos de 10mm, após a 6ª chapa batida e sem possibilidades de bater mais nada.

Faltando ainda uns 15 mts pro cume, mirei uma canaleta de mato que possivelmente levaria para algumas árvores do cume, com sorte consegui proteger na canaleta e quando a corda já estava acabando cheguei em uma árvore que fixei a corda para o Braga subir!"


Agora só falta repetir a via, quem quiser fazer o download do croqui clique aqui.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Conquista da via "Invasão do Sagaz Homem Fumaça" no Bauzinho, São Bento do Sapucaí - SP.

Bauzinho e Baú
Invasão do Sagaz Homem Fumaça D4 6° VIIb (A2) E3, 210m
Por: Bruno Matta e Rodrigo Vasconcellos “Braga”

Foi conquistada entre o final de Junho e inicio de Julho esta nova rota no Bauzinho, com 210 metros aproximados de extensão, ela apresenta lances audaciosos, exigentes, complexos e comprometedores divididos em 6 cordadas de pura emoção e diversão. É um prato cheio para quem gosta de escalada e aventura.

1ª cordada:

Ela sai logo a esquerda do diedro inicial da Neurônios Fritos, em alguns lances de aderência e logo alguns metros do chão, você protege em uma chapa e manda um lance de equilíbrio (Vsup), alcança uma fissura na sua direita, protege bem com alguns móveis e após um esticão tranqüilo, chega na 2ª chapa da via.

Logo abaixo de uma pequena barriga, antes de vira-la, você protege alto com um friend pequeno-médio e sai segurando em algumas ranhuras da rocha, protegendo da melhor maneira possível, toca para um pequeno diedro que tende para direita.
Neste mini diedro, protege-se razoavelmente bem e faz uma virada de outra barriga (VI) para a sua esquerda, protege novamente e sai tocando em sentido da 3°ªchapa da cordada.

Após a 3ª proteção fixa da cordada, estica sentido uma fissura que inicia na vertical e depois vai para a horizontal abaixo do platô de mato, protege-se bem nessa fissura e domina o platô em um lance de trepa mato.

2ª cordada:

Esta cordada é cheia de surpresas, sai da base mista (grampo P e móveis) protegendo com alguns friends pequenos e ao domínar o batente (Vsup), protege-se com um offset e toca para a 1ª chapa da cordada. Nesta chapa surge um lance de regletes bem interessante até depois da 2ªchapa (VIIa), onde só dá uma aliviada quando você segura na laca.

Apesar da aparência e do barulho de oca, está super sólida, tendo sido bem testada na conquista, protege-se com uma nut grande e Power, entra em um lance bem delicado de equlíbrio e reglets (VIIb) até a 3ª chapa da cordada.

Faz um pequeno contorno de uma barriga pela esquerda e costura a 4ª chapa da cordada, neste lance (VIIa) quem prestar a atenção nos pés da direita estará salvo e quando menos espera pega um buraco e protege com um camalot #1 a prova de bomba, vai tocando sentido fenda horizontal, assim que acessa a fissura a diversão começa, toca apenas em móveis até a base do grande diedro que cruza a parte inferior do teto do Bauzinho.

3ª cordada:

Um presente para o complexo, 30 metros inteiros em móvel de tirar o fôlego, a qualidade da rocha dessa fenda horizontal que cruza o teto do Bauzinho na sua parte inferior é impressionante.

Sai da base e protege muito bem no diedro, faz o crux da cordada, uma pequena travessia para a direita para alcançar a outra fenda (VI sup), assim que acessa essa fenda é pura curtição, rocha sólida e com possibilidades de colocações a cada instante, filé esta cordada.

4ª cordada:

A qualidade da rocha é impressionante, com muitas possibilidades de colocações, domina uma pequena barriga em artificial com peças bombásticas, pega uma fenda uma diagonal para a direita e quando surge à possibilidade sai em cliffs de agarra e buracos, sentido fendão no teto. Antes de entrar no negativo do teto, protege em uma chapa.

Com muitas agarras e fendas sólidas, segue tocando no negativo até alcançar a 2ª chapa da cordada, estando totalmente aéreo, segue pela fenda que cruza o teto, e assim que vira protege na 3ª chapa da cordada, tocando em furos de cliffs até a P4.

Esta enfiada apresenta muita possibilidade de ser feita em livre, um possível 9b/c, tendo sido os lances ensaiados, as proteções móveis são a prova de bomba e a negatividade da parede permite voar a vontade.

5ª cordada:

Ainda na parte negativa da parede, sai da base e costura uma chapa, manda um lance com agarras solidas e levemente negativo (VIIa), protege a 2ª chapa e domina um pequeno platô, protege-se a 3ª chapa e a 4ª em lances ainda delicados (VI) e toca sentido diedro.

Este diedro é muito sólido e com ótimas colocações, é quase uma dádiva, tendo se mantido intocados nestes últimos anos, é bem visual e tranqüilo (V), segue nele até o platô de mato e um pouco antes de dominar o platô, desvia-se dos blocos soltos pela direita e chega na P5.

6ª cordada:

Imagem do croquiInteira em proteções móveis, sai da base e mira um diedro, logo acima (uns 20 mts), protege da melhor maneira possível até chegar nele e quando chega nele,só diversão com proteções a prova de bomba.


Toca pro cume e quando chega à vegetação segue para a direita sentido base final da Neurônios a qual utilizamos para finalizar esta nova via. Trocamos uma das proteções antigas de rebite por uma chapa com bolt.


Resultado melhor não podia ser esperado, 2 cordadas totalmente em móvel, uma cordada em artificial , as outras 3 cordadas mistas.
Para fazer o download do croqui clique aqui .


Está pensando em entrar nela quando?

Guiando seu filho para a Montanha

A vida urbana moderna, com os atrativos da tecnologia, do conforto e do convívio social, afastou o homem da natureza com suas belezas, mistérios, ritmos e sua diversidade de animais e plantas.

Expedição na Serra do Cipó com a OBBSentindo a falta daquele contato, cada vez mais ele busca a natureza para estudo, lazer ou simplesmente para um reencontro consigo mesmo, mas em muitos casos também chegou à vez dos nossos filhos.

Tornar esse encontro mais intenso e seguro requer técnicas de vivência no meio natural e ter conhecimentos específicos como primeiros socorros em ambientes remotos, tempo, orientação, navegação, manejar e cozinhar com um fogareiro uma refeição suficiente para todo o grupo com qualidade e segurança.

Assim podemos evitar que algo sério aconteça como insolação, desidratação, hipotermia, se queimar com o fogareiro, ser apanhado por uma tempestade de raios, afogar numa travessia de rio e por aí vai.

Além disso, é necessário ter experiência em condução de grupo e estar atentos a necessidade física, fisiológica e emocional de cada participante, saber mais um monte de apanhados técnicos para que um simples passeio ou uma complexa expedição de 10 dias se torne uma rica e prazerosa experiência.

Expedição na Serra do Cipó com a OBBEm minhas andanças, tenho visto várias empresas que trabalham com o público jovem atuarem de maneira omissa e irresponsável, talvez por desconhecimento ou ainda mesmo por economia acreditando que o investir no seu corpo de guias não é necessário.

Acreditem que é muito necessário, uma vez que nos capacitamos para PREVENIR, se ANTECIPAR a possíveis problemas e não para que possamos soluciona los quando for preciso.

Por isso, quando forem procurar algo ou alguém que propicie bons momentos na natureza para você e seu filho não se esqueçam de checar algo a mais do que simplesmente o valor, quantos dias e as atividades oferecidas.

O outro lado da Ana Chata

Ana Chata, uma formação rochosa de qualidade em plena serra da Mantiqueira.

Especificamente na cidade de São Bento do Sapucaí, local onde muitos escaladores iniciaram a prática da escalada tradicional devido ao acesso a sua base e principalmente pela facilidade em escalar a maioria de suas vias.

Mas isto tem mudado nestes últimos 2 anos, novas vias foram abertas com o objetivo de aproveitar o melhor da rocha que ainda restava para novas conquistas.Algum tempo atrás tive a oportunidade de participar da conquista de uma linha óbvia a direita da Peter Pan.

Após muita conversa, escalada e desescalada para descobrir o traçado da via antiga e desconhecida por muitos (Paredão Caubói) iniciamos a conquista.

1 ª e 2 ª cordada, total de duas proteções fixas e sistemas alucinantes de fendas. Chegamos ao platô da Lixeiros, mais uma parada móvel, 4 chapas batidas num trecho esportivo e mais toca toca em móvel para o cume.

Fim da via "Pépe Legal" 5+ VIIB E3, 3 cordadas com total de 6 proteções fixas, 3 paradas em móvel e alguns trechos com lances em E3 me levam a crer que o resultado ficou bem interessante.

Até agora teve poucas repetições.Ano passado demos sequência no trabalho e abrimos um novo setor na Ana Chata, chamamos de "Vias da Roça". Localizado na face Noroeste e tendo como acesso a estrada que passa pelo estacionamento da Ana Chata e segue até chegar ao fim da estrada sentido rocha.

Na trilha percebia se o potencial do local para a prática da escalada em móvel e me perguntava todo o tempo como ninguém tinha feito nada naquele lado. Escolhemos a primeira linha, fizemos o planejamento necessário e tocamos pra cima, fim do dia e acabamos a via Zé Buscapé, entre colocações móveis e poucas proteções fixas percebemos a riqueza do local para aqueles que querem praticar e aprimorar sua escalada tradicional.

Pinças, aderência, fendas, esticões, abaulados e muito mais! O lugar prometia e continuamos as conquistas, em pouco tempo finalizamos o setor, com 7 vias os escaladores podem fugir da rotina de sempre da Ana Chata e achar um locar sossegado onde tenha a oportunidade para passar momentos interessantíssimos.

Além destas vias, outras foram abertas nas demais faces por conquistadores que deram um algo a mais para a Ana Chata.Para quem quiser mais informação é só enviar um e-mail para o e-mail robraga@hotmail.com, os croquis serão lançados na sequência.

Rodrigo Vasconcellos, montanhista desde 1984, iniciou a prática da escalada em 1994 e é instrutor da Outward Bound Brasil onde atua como educador e guia em expedições.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A Montanha da Vida

A vida pode ser comparada à conquista de uma montanha.
Como a vida, ela possui altos e baixos.

Para ser conquistada, deve merecer detalhada observação, a fim de que a chegada ao topo se dê com sucesso.

Todo alpinista sabe que deve ter equipamento apropriado.
Quanto mais alta a montanha, maiores os cuidados e mais detalhados os preparativos.

No momento da escalada, o início parece ser fácil.

Quanto mais subimos, mais árduo vai se tornando o caminho.
Chegando a uma primeira etapa, necessitamos de toda a força para prosseguir.


O importante é perseguir o ideal: chegar ao topo. À medida que subimos, o panorama que se descortina é maravilhoso.

As paisagens se desdobram à vista, mostrando-nos o verde intenso das árvores, as rochas pontiagudas desafiando o céu.

Lá embaixo, as casas dos homens tão pequenas...É dali, do alto, que percebemos que os nossos problemas, aqueles quejá foram superados são do tamanho daquelas casinhas.

Pode acontecer que um pequeno descuido nos faça perder o equilíbrio e rolamos montanha abaixo.

Batemos com violência em algum arbusto e podemos ficar presos na frincha de uma pedra.É aí que precisamos de um amigo para nos auxiliar.

Podemos estar machucados, feridos ao ponto de não conseguir, por nós mesmos, sair do lugar.

O amigo vem e nos cura os ferimentos.
Estende-nos as mãos, puxa-nos e nos auxilia a recomeçar a escalada.

Os pés e as mãos vão se firmando, a corda nos prende ao amigo que nos puxa para a subida.

Na longa jornada, os espaços acima vão sendo conquistados dia a dia.
Por vezes, o ar parece tão rarefeito que sentimos dificuldade para respirar.

O que nos salva é o equipamento certo para este momento.

Depois vêm as tempestades de neve, os ventos gélidos que são os problemas e as dificuldades que ainda não superamos.

Se escorregamos numa ladeira de incertezas, podemos usar as nossas habilidades para parar e voltar de novo.

Se caímos num buraco de falsidade de alguém que estava coberto deneve, sabemos a técnica para nos levantar sem torcer o pé e sem machucar quem esteja por perto.

Para a escalada da montanha da vida, é preciso aprender a subir e descer, cair e levantar, mas voltar sempre com a mesma coragem.

Não desistir nunca de uma nova felicidade, uma nova caminhada, uma nova paisagem, até chegar ao topo da montanha.